segunda-feira, 14 de abril de 2008

Medo de Voar

Sinto-me o mínimo a vontade que alguém possa querer (estar). Em contraponto, me ponho a fazer, mas como se não fosse a única preocupação d'agora. Me preocupo, no entanto, também, na recolha do lixo que esbanja no transbordar da borda cercada dum banheiro de luz mofada. O que nada é. No mais, me preocupo que, logo, ao amanhecer da noite repulsada de meu olho, não posso esquecer. Ou fingir esquecer o que não tenho feito. Preciso fazer supermercado.
Fôra, passo dado, lixo recolhido, dentes escovados, a água jogada no rosto, gotas d'água - dessas, pôde sentir as fugidas escorrerem pelos braços até as pontas dos cotovelos. Suficiente a secar-se. Secara o rosto, voltou-se contra ela e acordou-a. Ajudou. Espaireceu o anterior, parece, e nem se deu ao trabalho de acordá-la. Fiz, apenas levantei.
No primeiro contato, não considero este o primeiro: apreensão faltou. Bom ou ruim? Vamos, há um dia todo pela frente. E, quem diria que, ao sair do prédio e se propor à luz, que cega, ela receberia um convite, um soberbo convite, - me permito demonstrá-la dessa forma tão, tão... familiar e como se não, ao avesso. Posso sentir a verdade ecoar, o organismo dela pulsa. Sempre me pedira isso. É até fantasioso. - convite a voar.
Foi-se a voar, jamais recusaria. Sentir o vento nas entranhas era o que mais te excitava. Já houvera feito antes. No entanto há tempos não sentia o estremecido da pele. O durante estendeu-se por mais..., aproximadamente três minutos. Era o fim, se aproximava. Temia, mas não pensava. Só sentia.
O querer formou-se depois. Teria querido, se quisesse. Mas não era a hora. Contornar a paisagem em âmbito de flor era sem graça. Sua ganância não era sequer maliciosa.
O aflito movimento das asas remanchava ao vento, fizera o esforço da volta para depositá-la de onde a tirou. A ave a incomodava. Foi então que, num instante de desatenção da ave, ela se soltou e saltou. Abriu as asas, as próprias. Pousou. Tal como se pousa leve num regato de asfalto. Como é possível?! O limitar da guia, do aterramento, da ciclovia? Voltara a cegar-se. Voltara a cegar-se. Pela íris sua, contrapunha todas as luzes que nunca teria querido ver e cores que haveria querido tocar. Ter e querer vão de pesares incomuns. E o que importa já que as tinha?
Pouco antes que o pouso forçado acontecesse, num dejavu, apeou o corpo a enganar o vento. Revirou-se. E com um movimento brusco bateu as asas com força. Força essa descabida, que nunca tivera. Voou por toda a orla que poderia ver a olho nu, de uma praia à outra, e outra, e outra. O cheiro de peixe das pontas das praias lhe agradava. Queria chegar sempre às pontas e recomeçar dali, para a mais próxima, o início da outra praia. O recomeço. Almejava o recomeço. Ela sempre soubera, mas fingia, lhe doía.
Ao fim da orla, dera meia-volta e pôs-se a fazer tudo, sentir tudo, desde o início.

Um comentário:

Priscila Maia disse...

lindo tânia. adorei a tentativa de voar, e todos os incentivos terrestres para se manter o estado de vôo. um beijo, vou te frequentar sempre