sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A Noite

Não urgenciava as palavras, assim pensava ao gesticular, Júlia. Uma vez ele disse que não a amava. Uma é querer simplificar, dizia sob entrelinhas explícitas. Daí inventava qualquer estória e sorria. Gargalhava às vezes. Ela ria junto, o que se podia fazer?
Teve um dia em que se reencontraram, e foi péssimo! Uma amiga a acompanhava por sorte ou azar. Beberam e conversaram bem pouco. E como o tempo passou e nada lhe veio à memória nos dias atuais, fingiu esquecer, e funcionou! Quis sequer uma lembrança que goste de guardar; Foi como se aquele dia não tivesse acontecido. Ah! A camisa! Sim, era pra uma cor parecida de sol pós meio-dia quando fecham-se os olhos bem apertados e olha pra o céu.
Assistia, Júlia, a conversa que se entusiasmava gradual na mesa de bar. Tal era o desconforto que nem o assunto lhe interessava a tornar-se sociável. Poderia estar em qualquer lugar, menos ali.
Mas tinha também que não estava bem boa das idéias. Não, não consumira qualquer tipo de droga a não ser uma dose de o que era mesmo? Tomara na adolescência, comentara com a amiga ao fazer o pedido. Era uma dose desses similares a pinga com limão ou aquele outro com groselha. Em copo de plástico, que o boteco ao lado, ao do de encontro, estava fechando. Engoliu forte, em duros goles. Pronta, estou pronta! - Disse a amiga.
Relutara em guiar os passos, uma frescura momentânea para dizer que estava nervosa. Ou duvidosa; Era vontade de medo. Sabia é que se misturavam àquela bebida quente, e ela a tudo isso, em meio também àquela temperatura de o quê, 35 graus! Em seu cérebro eram 40, fritavam os graus todos.
Fôra assim, uma noite. Noites estas, existiram. Lembrara destas.
Júlia, numa outra noite, numa outra mesa de bar, dizia da experiência aos amigos que a ouviam atentos. Nem entendia o porque contava. Mas era vivido e tinha de ser sabido pra Júlia que, mais que os outros, se ouvia. E amigo é isso, que ouve mais de duas vezes e acredita na versão dos detalhes engraçados.
Gesticulara, gesticulara e todos ali, estavam, presentes de corpo. Preferia acreditar, fazia sentido.
Por fim, tudo fizera sentido na manhã ressaquiada do dia seguinte. Tomou-se em pensamento de voz alta enquanto lavara o rosto: "Há noites que não conto, guardo-as."

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